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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Romantismo no ar...

A força do amor
           
Roque sempre fora um tanto supersticioso. Todas as manhãs, ao despertar, abria primeiramente o olho direito; depois, coçava o lado direito da cabeça com a mão direita; a seguir, levantava-se de sua cama pelo lado direito, pisando o chão com o seu pé direito.
Na hora do banho, lavava em primeiro lugar o lado direito do corpo; quando escovava os dentes, começava pela direita; penteava o cabelo a partir do lado direito. Para se vestir, braço direito e perna direita na frente. E os sapatos então? Calçava primeiro o pé direito.
Somente abria portas usando a mão direita. Quando entrava em qualquer lugar, o fazia com o pé direito; quando saia, também era o mesmo pé o primeiro a deixar o local. Subindo ou descendo algum degrau, pé direito. E se fosse pegar qualquer coisa, nunca hesitava: lá estava sua velha e boa mão direita.
Usava o relógio no punho direito. Onde ficava a carteira? Bolso direito da calça juntamente com as chaves da casa, do carro e do escritório. Para falar ao telefone, só o ouvido direito. Se o chamavam, era pela direita que ele se virava para responder a quem quer que fosse.
Sempre tudo com o lado direito. Era direita pra cá, direita pra lá, sem nunca se confundir.
Todos que o conheciam achavam muito estranho alguém viver como o Roque vivia. Ele tinha a explicação na ponta – direita – da língua: “Não são apenas meras superstições, é a minha filosofia de vida: se faço alguma coisa, faço direito! É isso!”. E falava com muito orgulho, com um sorriso no canto direito da boca.
Todas essas superstições marcaram a vida do Roque, principalmente quando ele estava prestes a se casar com a mulher da sua vida. A troca de alianças realmente é o momento de mais emoção na cerimônia...
-    Ah, não!
-    Não??
-    Não, não e não! De jeito nenhum!
-    Mas, Roque...
-    Nem pensar! Aliança na minha mão esquerda, nem morto!
-    Mas casamento é assim, Roque, meu amor...
-    Então, se é assim, eu não caso e fim de papo!
Isto lá era coisa de se dizer para a própria noiva, no altar?!
-    Ah, casa, sim, seu verme miserável!
TABEEEEFFFFF!!!
Ai! Coitado do Roque! Foi isto o que ele ganhou por ser tão supersticioso: um bofetão bem caprichado! E no lado direito do rosto! E foi um dia inesquecível na sua vida...
Hoje, Roque é um homem casado e feliz, muito feliz. Casou e casou direito, do jeito que tem que ser, por livre e não tão espontânea vontade, mas enfim...
Que tal uma visita rápida para sabermos como sua meiga e delicada esposa aceitou o seu jeito supersticioso de ser? Ah, lá está ele! E chegamos bem no momento em que ele está acordando! Curioso... O Roque dormindo no lado esquerdo da cama?! Epa! Abriu primeiro o olho esquerdo?! E agora está coçando o lado esquerdo da cabeça?! E com a mão esquerda?! Levantou-se pelo lado esquerdo da cama e só falta... Não é que ele pisou no chão primeiro com seu pé esquerdo?! Inacreditável! Pelo visto, ninguém poderá negar que a força do amor é capaz de mudar – e machucar – as pessoas... O Roque está aí para provar.

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